15 de out. de 2012


ORHAN PAMUK




Neste feriado eu li  "A Maleta do Meu Pai",
do escritor turco Orhan Pamuk, e amei... Um
pequeno livro com três discursos dele: o primeiro,
homônimo do livro, marca o recebimento do
Prêmio Nobel em 2006, o segundo, Em Kars
e Frankfurt, a cerimônia de entrega do Friedenpreis
de 2005, e o último, O Autor Implícito, a Conferência
Puterbaugh sobre literatura mundial, em 2006.
Li um discurso por noite, são três relatos
apaixonantes, com uma visão real, intimista, simples
e emocionante do autor, falando sobre o seu processo
criativo, sua relação com o pai, os sentimentos
humanos, Ocidente/Oriente, etc...
O livro é um PRESENTE para quem gosta de escrever!
Logo que cheguei de uma viagem pela Turquia,
em julho deste ano, li "O Romancista Ingênuo e o
Sentimental" também do Orhan Pamuk onde ele
narra suas conferências realizadas em Harvard
sobre como se tornou escritor e a arte de escrever
romances, e hoje à noite, começo a ler Istambul,
meu primeiro romance dele! Foi tudo sem querer,
eu comprei estes dois primeiros livros acima porque
eram mais fininhos, e foi perfeito, foi como
ter sido preparada antes para então começar a
ler seus romances!

Trechos de "A Maleta do Meu Pai":

"...agora, esses leitores, como o próprio
autor, acabam tentando imaginar o outro; eles
também se põem no lugar de outra pessoa. E
são esses os momentos em que sentimos a
presença da humildade, da compaixão, da tolerância,
da piedade e do amor no nosso coração: porque
a grande literatura não se dirige à nossa capacidade
de julgamento, e sim à nossa capacidade de nos
colocarmos no lugar do outro."

" A história do romance é a história da libertação
humana: ao nos colocarmos no lugar do outro,
usando a nossa imaginação para nos desprender
da nossa identidade própria, podemos conquistar a
liberdade."

"Acredito que a literatura seja o tesouro mais
valioso que a humanidade acumulou em sua busca
de compreender a si mesma."

" Se estou me sentindo pessimista, posso pensar
sobre o quanto tudo aquilo me entedia. De qualquer
maneira, uma voz dentro de mim vai surgir, dizendo-me
para voltar para minha sala e me sentar diante da mesa.
Não tenho a menor idéia do que a maioria das pessoas
faz nessas circunstâncias, mas é isso que transforma as
pessoas em escritores."



Em Istambul (o livro) Orhan Pamuk mostrou
que a paisagem da capital do extinto Império
Otomano nasceu da paleta de franceses como
Gérard de Nerval e Théophile Gautier. Agora,
sem prejuízo do senso das distâncias e dos
desequilíbrios, ele reafirma a necessidade da
aproximação com a cultura do ocidente, e esse
encontro de águas é que dá feição própria às
reflexões de O Romancista Ingênuo e o
Sentimental. Como leitor de Montaigne, o autor
incorpora um "humanista cauteloso, porém
otimista", apostando que fará observações
válidas sobre a arte do romance.

As conferências realizadas na universidade
de Harvard, que compõe este livro, "são
conversas" à moda de Aspectos do Romance,
do britânico E. M. Foster, hoje um clássico dos
estudos literários que Pamuk homenageia e atualiza.
Afinal, no intervalo de pouco mais de oitenta
anos entre as conferências de Foster e as do autor
de Neve, o romance se mundializou, arregimentou
artifíces em todos os continentes e é cotidianamente
recriado em muitas línguas. Onde quer que tenha
se firmado, pode ser uma grande força democrática.

Vivendo e escrevendo em um país pobre e não
ocidental, Pamuk tem uma experiência valiosa a
relatar. Não só porque sua formação foi de
autodidata em grande medida graças a biblioteca
do pai, mas sobretudo porque, dentro de uma cultura
islâmica, Stendhal, Balzac e Flaubert sugeriam uma
maneira diferente de ser e de agir. No fundo, a questão
é a da vida literária no que hoje se convencionou
chamar de "países emergentes".  Certamente soará
familiar ao leitor brasileiro a constatação de que
as opressões políticas, paradoxalmente, não raro
impulsionam as soluções criativas. Do mesmo
modo sabemos como pode ser ambíguos os
sentimentos do escritor para com o público. Entre
paternalismo e isolamento, qual a boa medida?

O título alude ao célebre ensaio de Friedrich
Schiler, "Sobre a poesia ingênua e sentimental"
Pamuk acredita que um romance de fato
"acontece" diante de nossos olhos de criador
ou leitor quando somos ingênuos o suficiente
para aderir ao mundo ficcional e nos compadecer
dos personagens, e sentimentais (ou reflexivos)
o suficiente para não esquecer que tudo é
artifício.

Texto da orelha do livro,
"O Romancista Ingênuo e o Sentimental".




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