17 de mar. de 2012



LYGIA PAPE
(1927/2004), ganha retrospectiva na Estação Pinacoteca,
com a  exposição,"Lygia Pape - Espaço Imantado".
O intuito da mostra é fazer com que o público entre
em contato com o lado sensorial e poético da artista -
Lygia é uma das mais importantes artistas brasileiras,
e uma das precursoras da arte contemporânea no Brasil.
Fui hoje, imperdível!



Espaço Imantado

A partir das minhas andanças de carro pela cidade - porque
eu ando muito de carro - fui percebendo um tipo novo de
relação com o espaço urbano, assim como se eu fosse uma
espécie de aranha tecendo o espaço, pois é um tal de vai daqui,
cruza ali, dobra adiante, sobe e desce em viadutos, entra e sai
de túneis, eu e todas as pessoas da cidade, que é como se
passássemos a ter uma visão aérea da cidade e ela fosse uma
imensa teia, um enorme emaranhado. E eu chamei de espaços
imantados porque aquilo tudo era uma coisa viva, como se eu
fosse caminhando ali dentro a puxar um fio que se trançasse e
se enovelasse ao infinito.

E o camelô também seria uma forma de espaço imantado,
no sentido de que ele chega assim numa esquina, abre aquela
malinha e começa a falar, criando de repente uma imantação,
com as pessoas todas se aproximando, se ligando àquele
discurso irregular, às vezes curto, às vezes longo, e de repente
ele fecha a boca, fecha a caixinha, e o espaço se desfaz.

E tem também outros espaços que eu considero como espaços
imantados naturais, como é o caso da Baixada Fluminense,
que é um espaço agressivo, terrível, furioso, desesperador e
belo. É um espaço que eu identifico assim que o encontro.
Eu chego lá e sinto toda aquela força, entende? Assim como
na rua da Alfândega, onde você capta imadiatamnte toda uma
poética própria. No caso da Baixada, trata-se de uma poética
muito particular, violenta, terrível e constrangedora, na sua
fúria: a tragédia do homem anônimo, perdido e só.

Lygia Pape


O final do filme italiano Golden Door, de 2006, em
que os atores aparecem nadando em um mar de leite,
com música de Nina Simone, me lembra a obra
Divisor, de 1968, da Lygia Pape.


Assiste os dois filmes juntos!

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